sábado, 25 de abril de 2015

Blanquet de Peru

*Por Dr. Paulo Lima

Até pouco tempo atrás, confesso, nunca tinha ouvido esta palavra e, para quem, como eu, também não conhecia o seu significado, de logo adianto que se trata de uma comida ou, mais propriamente, é um tipo de fiambre de peito de peru – comida de gente fina, literalmente – que tem menos de três por cento de gordura e, deste modo, ajuda a manter a forma. Ao menos é isto o que se lê na embalagem. Agora o que vocês não sabem, nem tampouco eu sabia, até que abri a geladeira, dias desses e descobri esta raridade (raridade é exagero, minha gente).
Como sou meio curioso peguei o pacote para tirar uma fatia e experimentar esta guloseima. Pois bem, quando meto a mão, senti as garras de um felino rasgando a minha perna e, além da dor, levei um susto tão grande que o bicho (refiro-me ao fiambre) caiu no chão.
Era um dos cinqüentas gatos que coabitam comigo, pacifica e harmoniosamente na casa onde moro, aqui em Olinda. O nome dele é “julinho” e garanto a vocês que, quem manda no pedaço é o bichano! De logo adianto que não fui eu que coloquei esse nome afrescalhado no gato. Eita! Me desculpem a expressão politicamente incorreta… Fiquei meio injuriado com o safado do gato mas não teve jeito, tive que devolver o “blanquet de peru” de volta à geladeira, pois há algum tempo que não me meto mais com os bichanos, sob pena de ser despejado e não é isto que desejo nesta altura do campeonato. Afinal, já pensaram, uma pessoa como eu, que já ultrapassou a casa dos cinqüenta anos e que há muito deixou de ser um “gato” (na verdade estou mais para guabiru) ser despejado e se transformar num “sem teto”?
Em verdade não queria conviver com tantos gatos numa casa. Não que eu não goste dos bichanos, não é isso, mas vocês hão de convir que cinqüenta e tantos gatos dentro de uma casa é um pouco demais! Os danados tornam-se, literalmente, os donos da casa; sobem na mesa, dormem na sua cama, ocupam o seu sofá, e aí de você se tentar se meter com um deles, pois está fadado a levar uns bons arranhões!
O danado é que, no dia seguinte ao evento um deles (não posso afirmar que foi o safado do Julinho pois não tenho provas e acusar sem provas é crime!) encontrou o meu “lap top” aberto, na minha mesa de trabalho e não teve dúvidas: tascou-lhe uma bela mijada, causando um curto circuito tão grande que o computador não teve mais conserto. Ainda bem que consegui salvar os meus arquivos, que se encontravam armazenados no disco rígido da máquina. O fato é que, por conta dessa desavença felina (a minha mulher jura de pés juntos que não foi o safado do Julinho) tive que desembolsar quase dois mil reais na compra de um computador novo, vejam vocês, sem contar com o trabalhão que tive para comprar o bicho (refiro-me ao “lap top”), pois o shopping (eu morro e não me acostumo com essas frescuras de utilizarem termos americanizados em tudo quanto é coisa) estava apinhado de gente fazendo compras. E ainda dizem que o Brasil está em crise; só se for em crise de falta de vergonha na cara, como diria “seu Quincas”, o nosso conterrâneo que entende como ninguém de política. Por falar nisso, preciso bater um papo com seu Quincas para me inteirar das novidades na minha terrinha, pois comenta-se que agora em 2016 o bicho vai pegar! Cá estou eu tergiversando… Voltemos ao assunto.
O fato é que, como não tem jeito mesmo e há muito já me conformei com a minha sina, vou terminar os meus dias convivendo com os bichanos. O consolo é que, dia desses me disseram que existe um ditado chinês que diz que na casa onde vivem muitos gatos os habitantes têm uma vida longa e, deste modo, acredito que ainda vou viver mais uns duzentos anos, para a alegria de muitos e tristeza de alguns outros, aí de nossa terrinha, que não morrem de amores por mim. Mas finalizo, parafraseando o grande Zagalo: Eles vão ter que me engolir! A essas pessoas, sugiro que comecem a criar gatos e passem a comer “blanquet de peru”, pois quem sabe, deste modo vivam também algumas centenas de anos?

Um abraço a todos.


*Dr. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente exerce o cargo de Procurador Federal. 

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