sexta-feira, 26 de junho de 2015

PERFUME DE JASMIM

*Por Dr. Paulo Lima

Quantos aromas agradáveis e variedade de perfumes a natureza nos oferece! E não é preciso que, para tanto, percorramos campos de alfazema, no Sul, ou mesmo aqui pertinho de nós, os cafezais em flor da Serra da Taquara, que, não raras vezes encontramos misturados com o ipê amarelo, pontilhando a nossa serra com as cores brancas e amarelas, nas floradas de setembro a novembro, fazendo com que este cantinho de nosso Estado de Pernambuco se torne mágico. Não é sem razão que eu costumo dizer, que, para nós que temos o privilégio de ter o nosso cantinho na Serra da Taquara, a exemplo do meu vizinho e amigo, Ivaldo Figueirôa, estamos a um degrau para alcançar o céu, noves fora o exagero, claro.
Muitas vezes somos surpreendidos com o perfume delicioso e adocicado de jasmim, planta cultivada em quase todos os jardins das casas, seja na cidade grande ou mesmo nas cidades interioranas, ao passarmos em frente de uma residência, cujos moradores cultivam esta planta. E como é bom sentir o perfume de jasmim, numa manhã fria e chuvosa de junho, ou numa noite já nem tão fria de setembro!
Dia desses, numa de minhas caminhadas diárias, cujo hábito saudável estou retomando, inclusive por uma questão de saúde, aqui na beira mar de Olinda, passei em frente a uma residência e senti aquele perfume inebriante, tomando conta da praia. Como o mar estava cheio dava para sentir o aroma salgado das ondas, misturado com o cheiro adocicado de um jasmim laranja e parei um pouco a caminhada para apreciar aquela mistura de aromas. Percorro rotineiramente aquele pedaço de praia e nunca tinha percebido os jasmineiros que ainda existem nos jardins de algumas das casas que, a exemplo da casa onde moro, cujo jasmineiro está sempre florido, ainda resistem à especulação imobiliária e a ganância das construtoras. É o progresso, diriam vocês, que me lêem neste momento e, respondo para os meus botões, que prefiro mil vezes o atraso, desde que continue a viver no meu sossego, com os pés firmes no chão e não gostaria de terminar os meus dias de vida encaixotado dentro de um apartamento nas alturas de um edifício.
Deve ser porque sou um matuto, nascido no sítio goiabeira, cuja parte de minha infância vivi a correr por entre as árvores, quase nu, molhando os pés no riacho que descia a serra, cortava Vertentes e ia desaguar no Riacho Topada. Este, ao seu turno, ia desaguar no Capibaribe, que findava por banhar o Recife. Hoje, sinceramente, não sei se o Recife é banhado pelo Capibaribe ou pelos esgotos que saem dos edifícios e ali deságuam.  Pois é. Fazem anos que não vejo o riacho de minha cidade correr… E nesse momento me vem à memória recordações do meu tempo de menino, que acreditava estivessem soterradas, de forma definitiva, pela montanha de acontecimentos, vivências e anos que me afastaram desde então, até o presente momento.  Mas, o que nos diferencia de outros animais, creio, é justamente esta capacidade de recordar e, como dizia o poeta, recordar é viver.
Lembro, quando criança, que, no sítio de minha avó “mãe Nem Nem”, havia um jasmineiro junto ao pé da calçada, próximo à entrada da porta principal de sua casa. Era um jasmim laranja que quase sempre estava florido e cheio de abelhas que disputavam o néctar de suas flores com alguns beija-flores e era uma festa só!  Lembro das madrugadas quando ela levantava para fazer o café e acordava com aquele perfume gostoso de café novinho, misturado ao aroma do jasmineiro.  Hoje já não existe mais aquele pé de jasmim, nem abelhas ou beija flores e, para falar a verdade, nem sítio, pois resolveram dar um nome de rua aquela área rural de nossa cidade, Vertentes, vejam vocês. O mais engraçado, é que, às vezes a gente só dá valor a essas pequenas coisas quando as perdemos e somente tardiamente nos damos conta de que felicidade é isto… E volto a caminhar pois a vida, em verdade, nada mais é que uma longa caminhada e, ao menos, ainda sinto, vez por outra, o perfume de alguns jasmineiros…
Abraços a todos.


*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, ex Procurador Federal (aposentado) e advogado. 

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