domingo, 27 de dezembro de 2015

JOVENS DO NOSSO TEMPO

*Dr. Paulo Lima

Ariano Suassuna, esse paraibano "arretado", mestre do Movimento Armorial, que deu uma nova feição à cultura nordestina misturando o erudito ao popular, nas artes, no teatro, na literatura e na nossa música proferiu, certa feita, a seguinte frase: "O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Prefiro ser um realista esperançoso.” Confesso, que, no mais das vezes me enquadro na primeira afirmativa do mestre e, reconheço, carrego em mim esse "pecado venial", principalmente quando se trata de nossa juventude.  É que, não obstante as notícias divulgadas diuturnamente por parte da imprensa, com relatos de violência, drogas e assassinatos envolvendo os nossos jovens, ainda acredito que o Brasil é um País de futuro!  E porque ouso fazer esta afirmação, perguntaria algum de vocês, que me lê neste momento?  Respondo, comentando o fato a seguir descrito.
Esta semana o Conselho de Desenvolvimento Urbano da Cidade do Recife - órgão cuja finalidade seria (seria, frise-se bem), o debate e o acompanhamento das políticas públicas relativas ao espaço urbano, priorizando a qualidade de vida na capital pernambucana - aprovou o chamado "Projeto Novo Recife", uma arrojada e milionária empreitada imobiliária que prioriza a construção de torres (prédios residenciais e comerciais) ao largo do Cais José Estelita, no bairro de São José, no Recife, onde antes funcionavam galpões de armazenamento do açúcar produzido em nosso Estado, de propriedade da RFFSA - Rede Ferroviária Federal - SA, bem como antigas estações ferroviárias e a segunda linha de trem mais antiga do Brasil, um verdadeiro patrimônio histórico e urbanístico do Recife. Desde o início do empreendimento imobiliário que se discute várias irregularidades, inclusive suspeita de fraude no leilão, por subfaturamento na aquisição do terreno, pelo consórcio, com prejuízos aos cofres públicos no valor de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) e que está sendo alvo de investigação da Polícia Federal, cuja operação tem o sugestivo nome de "Lance Final", além de cinco ações que se encontram em tramitação na justiça e que questionam a legalidade do projeto.
Pois bem, no pretérito ano de 2014, mais precisamente na noite do dia 21 de junho, o Consórcio Novo Recife deu início, na calada da noite, à derrubada dos galpões para começar a edificação do empreendimento imobiliário, antes mesmo de haver a conclusão do processo administrativo em tramitação na Prefeitura do Recife, mas não contava com a reação da sociedade. Nessa mesma noite o integrante do Movimento Direitos Urbanos, Sergio Urt, que flagrou a ilegalidade - e depois de exigir a apresentação do alvará de demolição foi espancado pelos seguranças da construtora Moura Dubeux - fez uma convocação à sociedade e aos jovens, mobilizando mais de 200 pessoas (a maioria jovens entre 15/25 anos) e que, juntas, conseguiram interromper a demolição, dando início ao movimento "Ocupe Estelita". 
Desde então esses jovens, que normalmente deveriam estar discutindo questões próprias de sua idade, tais como roupas e tênis de grife, lançamentos musicais e coreografias de lançamentos musicais de gosto duvidoso, estão envolvidos neste movimento a ponto de, nesta semana, se acorrentarem ao prédio da Prefeitura do Recife numa tentativa quixotesca de impedir que o famigerado projeto fosse aprovado pela municipalidade. Tudo em vão.  Mas a guerra não está perdida, é bom registrar.
E o que pretendem esses jovens? Apenas uma cidade melhor e mais humanizada para os filhos do Recife, tudo para que a cidade dos rios e das pontes, cantada em verso e prosa pelos nossos poetas, não se transforme na cidade dos automóveis e da segregação social.
São gestos e atitudes como as que agora retrato nessas mal traçadas linhas, que, pedindo vênia ao grande mestre Ariano Suassuna, me fazem ser um otimista inveterado e acreditar na juventude deste nosso País! Para Ingá Maria, a minha "neta torta", é mais esta homenagem.

*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, ex-Procurador Federal, e atualmente exerce a advocacia. 

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